A concentração da JBS no mercado de carnes é apontada por pecuaristas, especialistas e integrantes do governo como a principal causa da crise no setor: um tropeço da empresa afeta praticamente toda a cadeia de compra e venda de gado.
A redução do tamanho do frigorífico e, por tabela, da presença da JBS no mercado é vista agora como saída para o setor de proteína animal no Brasil.
O encolhimento da empresa, que cresceu com crédito subsidiado, poderá ter um efeito positivo, com a inclusão de pequenos e médios frigoríficos no setor, hoje marcado por um oligopólio de três a quatro empresas.
Essa é a visão do Ministério da Agricultura, que defende medidas de estímulo à entrada de novas empresas no mercado, e de alguns especialistas.
A diferença do tamanho da JBS para suas principais concorrentes é gigantesca. A companhia tem 36 unidades de processamento de bovinos, 30 centros de distribuição e três de confinamento, espalhados por 17 estados.
Enquanto isso, a Marfrig tem nove unidades de processamento de bovinos em sete estados, e a Minerva Foods concentra 11 unidades industriais e oito centros de distribuição.
Ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o advogado Ruy Coutinho do Nascimento acredita que o cenário pode melhorar, principalmente em Mato Grosso, Rondônia e Pará. Segundo Coutinho, nesses estados a JBS vinha comprando ou arrendando frigoríficos de médio e pequeno portes, para depois fechá-los. — Com isso, a empresa se torna fortemente monopolista, comanda tudo, incluindo preços. E essa prática também atinge frigoríficos de grande porte.
Em Nova Xavantina (MT), a JBS arrendou um frigorífico que abatia 1.500 cabeças por dia — diz Nascimento. — No meu entendimento, isso é abuso de poder dominante. Ele recomenda que tanto o Cade como os órgãos de defesa da concorrência do Mercosul fiquem atentos ao que vai acontecer na região.
Há o risco de, em vez de haver mais concorrência, a concentração se manter, com a aquisição de unidades da JBS pela Minerva — semana passada, as empresas negociaram unidades em Uruguai, Paraguai e Argentina — e outros frigoríficos de grande porte.
José Delchiaro, também especialista em defesa da concorrência, espera que possa ser restabelecida uma concorrência saudável, sem apadrinhamentos: — A JBS é um dos mais marcantes exemplos de compadrio entre Estado e empresários.
Com a leniência apresentada, os fatos vão demonstrar o indevido fortalecimento de um grupo às custas de financiamentos arcados pela sociedade, em detrimento da concorrência, por atuar em condições privilegiadas.
Com informações do jornal O Globo.
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